segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O mar e eu

Eu não me
entendo
com o mar

ele me
faz belos
discursos

me aponta
filosofias
sabedorias
e parábolas

desde o
grão de areia
até a história
de Jonas
na barriga da baleia

Mas,
o mar me deixa
mudo

Fiquei
sem fala
ao escutar
o barulho das
ondas dentro
da concha

descobri
que o mar
é o outro nome
do amor

Tenho medo
de mergulhar

Sou incompetente
para o mar

O mar e os mineiros

Quem
é filho de Minas
é menino de rio

contempla
margens
conhece
os remansos

e pra saber
de cor as curvas
já se entendeu
antes com
as montanhas

Mas,
mesmo essa
gente de água doce
não desiste
de decifrar
o destino
do rio de sempre
morrer no mar

Talvez
seja por isso
que mineiros
tenham esse
sentimento de perda
por não terem
o mar na porta
de casa

e ao mesmo
tempo,
uma estranha
intuição
de pertencimento
ao oceano

Se Minas
dá tantos
rios ao mar,

é natural
que mineiros
se reconheçam
tão bem no reflexo
da areia
no agito das ondas
ou na calmaria
do cais

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Revelações

As máquinas fotográficas digitais criaram um problema: acabaram com os negativos das fotos.

Era um ritual direcionar a fita escura na direção da luz e tentar adivinhar os retratos. Sem falar que os pedaços de rolo eram equipamentos de proteção ocular em dias de observar eclipses.

Era um acontecimento encontrar um rolo de filme esquecido na gaveta e mandá-lo para o laboratório fotográfico. Havia uma certa tensão para saber se o filme não havia queimado, se parte das fotos não estaria perdida, se teria sobrado exatamente aquela que a gente bateu só para testar a máquina.

Agora, pipocam máquinas, espocam flashes nas festas. Há retratos em profusão no orkut, msn, facebook, twitter.

Na era digital, não se revelam fotos; salvam-se fotos. Não é deste mundo quem não sabe o que é um pen driver. A peça que pode lhe pregar uma peça: você a coloca no computador e descobre que todas as fotos foram salvas. Mas, não são as suas. São do...daquele cara, aquele que tem uma moto... Ah, já vi uma foto dele, tenho-o no orkut; é o... Ah, não sei o nome dele.

Mas, se você salvou a foto certa, tudo bem. Só não sabemos ainda quem vai salvar a magia, a doce angústia que era esperar pela revelação.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Impressões do sábado

As mulheres
saem de casa
muito animadas,
entram num salão
de beleza,
escovam,
alisam,
esticam
e estragam
o cabelo

e ainda pagam
pelo serviço

Os homens
saem de casa
de bermuda
e chinelo,
almoçam porção
de fritas
com cerveja
num buteco,
chegam em
casa,
acham estranho
o cabelo esticado
das mulheres,

mas não comentam
nada

têm de se arrumar logo
porque elas já estão prontas
para uma festa qualquer
típica de um sábado
qualquer.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Crônica das formaturas

De quatro em quatro anos, de cinco em cinco, de três em três... Depende do curso. A cada vestibular, os aprovados formam uma nova turma. No fim do curso, essa mesma turma se forma outra vez. E assim, o verbo formar tem emprego garantido, tanto na entrada como na saída do estudante da faculdade.

E não é que a vida é uma sequência de formaturas? O bebê recém nascido começou a se formar nove meses antes, quando um espermatozoide valente venceu a corrida e se encontrou com um óvulo e os dois formaram um ovo, que virou embrião e... você sabe. Aliás, essa brincadeira começou mesmo mais cedo, quando homem e mulher formaram um casal, que se acertou na cama e deu no que deu!

Depois do nascimento, começa um processo que vai acabar também em formatura! Pai e mãe de primeira viagem aprendem, em pleno voo, a pilotar esse avião, chamado família! Meu Deus! É menino querendo mamar, a chorar, a espernear, a aprender a falar, a cair para aprender a andar. E aí, pronto! Quatro anos se passaram, cinco, seis, sete... E o diploma? Não vão entregar para os pais? Nada disso. Está pensando que formar um filho é simples assim, como formar um jornalista, um médico ou um advogado? Não dá para fazer artigo científico ou monografia sobre a profissão de pai ou mãe sem que se passe pela fase da adolescência. Haja bibliografia, haja regras para ser descartadas, substituídas, reinventadas. Normas da ABNT? De nada valem. Dicas da revista Nova, da Pais e Filhos, do programa de TV, da Super Nany? Já não é mais bibliografia, é multimidiografia! E mesmo assim, sempre vem a conclusão de que é cedo para entregar o diploma aos pobres pai e mãe! E mais cedo ainda para entregar o canudo para os filhos.

Ao passar da infância para a adolescência e daí para a fase adulta, o homo sapiens participa de algumas formaturas na escola! As fotos não deixam mentir: formatura na educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio, na faculdade!

E assim, caminha o formando! Nessa espécie de existencialismo gerundista. Está sempre indo, ensinando e aprendendo, conquistando, decepcionando-se, surpreendendo-se!E acaba por se formar várias vezes, sem solenidades. Ou você se lembra com precisão do dia e da hora da formatura dessa pessoa aí, que as outras pessoas chamam de você?Em algum instante, o verbo formar ganhou o prefixo trans e a gente virou isso que a gente é.

Ainda hoje, às 8h32min, ou amanhã, às 11h25min, ou quem sabe, exatamente agora, você pode estar colando grau. O mestre de cerimônias chama-se Tempo. Preste atenção, quando ele chamar o seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alma, voz e amor

Sua voz
tão mineira
era quase melodia
de festival

Sua
alma de
corpo inteiro

é leve
e densa

e tão
imensa
quanto um
sem fim de cafezal

seu amor
por mim
era maneiro

tão forte
e intenso
mas tão passageiro
feito
paixão de carnaval.

sábado, 16 de outubro de 2010

Será?

Dizer tudo o que se quer
faz parte da receita
para ser feliz?

Pensar bem
antes de falar
dá a certeza
de saber mesmo
o que se diz?

E ficar em silêncio?
É mesmo sinal
de sabedoria?
Em qualquer
situação?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Arquivo

Morri
porque
sabia demais
sobre mim mesmo

Não foi suicídio
foi queima de
arquivo

mas, o pior
é que antes
do terceiro dia,

descobri
que ainda estava vivo

Agora
só pedindo proteção
à polícia

mas, não
sei quem é mais perigoso:
o eu que me matou
ou o eu que ressuscitou.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A volta

Voltou.

Para rever,
abraçar,
olhar nos olhos,

pra contar
por onde andou

e por que fez isso
não fez aquilo

falar
por que não
voltou antes

por que só agora
e só depois
de parecer
que não viria mais

voltou
pra dizer
que mora na mesma casa
mas vai mudar

de vida
de rumos

voltou
e essa volta
mudou o meu dia

para sempre.

domingo, 12 de setembro de 2010

Como diria Dostoievsky

Lembranças
dos nossos erros
são mesmo
os piores castigos

até alguns
dos piores crimes
prescrevem

com o tempo

caem no esquecimento

escapam das punições

Mas, a memória
é o palco
onde tudo
se reencena

foi só um momento
foi um segundo
apenas

e mesmo
que o mundo
nem saiba

todo dia
cumprimos
a pena

vamos
e voltamos
livremente

mas a
cada instante
fantasmas
no salão escuro do júri
nos julgam
e nos condenam.

domingo, 5 de setembro de 2010

Segundo tempo

Abri espaço
e o tempo passou

mas sem essa
de que eu nem vi

vi e anotei

só desconfio
que pouco aprendi

voltei no tempo
e reparei
nos espaços
vagos

e até nos lugares
preenchidos

ri ao me ver
chorando em
alguns monólogos

sem nem plateia

já faz tempo
compreendi

quando não se
sabe mais o que
fazer

é só dar tempo
é só dar espaço
que ele passa

descobri:
o segundo nome
do tempo
é vento

no segundo tempo
do jogo,
não vem a virada

vem calmaria

O casal

Fizeram as pazes
mas mantiveram
a guerra

era difícil
mudar
o que um
achava do outro

era melhor
engavetar
essas opiniões

enxugar
a goteira de mágoas

embora
fosse impossível
impedir que voltasse
a chover

pequenas bombas
atômicas
volta e meia
explodiam

na cara deles

e assim
eram felizes

até que a
morte os
uniu
para sempre

sábado, 7 de agosto de 2010

Histórias de línguas

Percorrera mil léguas
de pergaminhos
em histórias
sem fim
algumas até sem começo

viera de mil línguas
distantes
sabia conjugações

era inimigo
das reiticências
sabia
a palavra
certa

depois dela
só caberia
o ponto final

chegara de língua
solta
contando tudo
meio pelas metades

verdades meio
inventadas
meio acontecidas

mas
as mentiras
essas sim
foram bem
vividas

contou
que por muito tempo
línguas estiveram presas
e por isso,
depois,
ficaram muito prosas

dissertou até
sobre a poética
de cada
fonema

e a fonética
de cada poema

falou
que escrever
é uma doença
crônica

e independe
do fato
data
pessoa
ou tema

revelou
que a insônia
em algum momento
se distrai
e prega os olhos

confessou
ler muito
para não ter
vocabulário anêmico

e não levar
as regras tão
a sério
porque a língua
é dinâmica

adora
a mecânica
da língua
na hora do beijo

e adverte
para a falta de caráter
da língua
capaz de discursos
messiânicos

e também de intrigas
e intervenções
diabólicas

terça-feira, 20 de julho de 2010

Meu amigo rio

Até mudei meu trajeto,
só pra passar perto do rio

não sei mergulhar
e ainda assim,
passeio nas profundezas

garimpar riquezas?
Não.

Quero aprender
com a gentileza do leito
onde adormeço meus pensamentos
e tropeço em pedras
fundamentais

converso com peixes
eles só respondem
com um nadar sem pressa

eu só pergunto,
porque o rio me inspira
a perguntar

águas que vêm de tanto lugar,
devem ter muito o que contar.

domingo, 18 de julho de 2010

Um nome

O seu nome
tem som de janela aberta
cheiro de você vindo
cor de noite bem dormida

O seu nome tem um i inglês
e i inglês não tem som de a
como dizem

tem som de ai
como se doesse

ai - um leve grito
ao ser chamado

Quando a gente
se fala
seu nome é tão bonito

letra por letra
seja o bendito nome
bem vindo
ao meu ouvido

Mas, ainda não sei
o que eu faço:
se me preparo
pra voar
ou se mergulho

Eu me divido
entre o passeio
e a longa viagem

Entre a leveza
e a profunidade

entre a epopeia
e o mini-conto

E quem decide isso
não sou eu
nem o nome
nem os números

quem escolhe
o ritmo
são os movimentos
cardíacos

e no momento
eles são intensos
inúmeros

O pastor (e as ovelhas)

Era um pastor
e não sabia nada de ovelhas

pastoreava orvalhos

passava a noite em claro
à espera de ver
uma folha suar frio

ao amanhecer,
conduzia as ovelhas
para onde elas tinham
de ir

ele ia pastoreando
os pensamentos

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O que será?

Ainda não sei
o que pode ser
mas seja o que for
já é

domingo, 13 de junho de 2010

Imagens da Copa

Três dias de Copa do Mundo.
Por enquanto,
nenhum time,
nenhum jogador
deu mais o que falar
do que a Jabulani.

Nome, essa bola tem.
E pelo que vimos
nos primeiros jogos,
velocidade também.

Imagens marcantes:
o gol feito pela África do Sul
contra o México;

a bola na trave
da África do Sul
contra o México;

Diego Armando
no mais belo estilo
Maradona:
dramático, como
um tango argentino;

o "frango" de Mr. Green;

a goleada da Alemanha sobre
a Austrália;

a bola na trave da
seleção de Gana contra
a Sérvia (sou apaixonado
por bolas na trave - acho
que bola na trave deveria
valer meio gol);

os jogadores da África do Sul,
descendo do ônibus,
dançando e cantando,
antes do jogo contra o México.

Os sons da Copa?

Ah, depois da vuvuzela,
o melhor som da copa
foi o hino argentino.

Que me desculpem
os que defendem
o ódio gratuito
aos los hermanos.

Sou apaixonado
pela cultura argentina,
pela intensa participação
do povo argentino
na vida política do país.

Temos muito a aprender
com eles.

No futebol, podemos
ser muito bons,
mas eles também
são muito bons.

Quem sabe os dois
hinos,
o brasileiro
e o argentino
não toquem na final
da Copa do Mundo
da África do Sul?

domingo, 23 de maio de 2010

A caminho

O perdão
está a caminho

sinto
desafogar
o coração

já posso
parar
e tomar uma
água

o perdão
vem direto
da fonte

eu peço
todo dia
toda hora

mesmo quando
não oro.

sábado, 15 de maio de 2010

Abstrato/Concreto

O último
verso
chega ao
fim

e o poeta
cai
na tentação
de se perguntar:

a qual
escola literária
pertence
minha obra?

Qual é o
meu estilo?

Entre a técnica
e a inspiração
ele se perdeu.

Mas, para que
tanta preocupação,
se até mesmo
a poesia
concreta
é pura abstração.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Desengasgo

Palavras vagam pelo quarto
e batem, desgovernadas, 
nas paredes da boca.
Que céu, que nada. 
Elas infernizam o pensamento,
interrompem meditações.
Não se conformam,
 enquanto não são ditas,
 escritas, 
pichadas, 
gritadas,
 mesmo que pouco tempo depois,
 sejam deixadas num canto,
 esquecidas.
 Mas, não importa.
 Humilhante para uma palavra 
é morrer, sem ter nascido,
 sem mostrar a cara,
 asfixiada,
 engolida,
 como se fosse saliva.
 Palavra tem de sair
 do corpo que a abriga.
 Nem precisa 
conhecer a fama,
 basta um sopro,
 um segundo de vida.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dia do goleiro

No pedaço, onde eles ficam,
na pequena área,
dizem:
nem nasce grama.

Ou se nasce,
não sobrevive
por muito tempo.

Também dizem:
pior escolha
do que a posição de
goleiro,
só a de árbitro.

O goleiro é
a antítese do momento
mais importante do
futebol.

O goleiro existe
para impedir
esse instante mágico,
em que os corações
dos torcedores disparam.

O goleiro só veio ao
mundo,
com uma missão:
impedir o gol.

Mas, há goleiros
que se esmeram tanto
que fazem parecer um gol
a defesa espetacular de um gol.

E acabam tendo o nome gritado
no estádio,
honraria geralmente
reservada aos artilheiros.

Há goleiros que voam,
"fazem pontes",
esticam-se,
"vão ao terceiro andar",
"mergulham" no pé do atacante.

Há goleiros que
se transformam em
"muralhas" instransponíveis,
"fecham" gol,
são"paredes".

Entre os maiores goleiros
que vi jogar estão
Taffarel,
Dida,
Raul,
João Leite,
Júlio César.

Entre os que não vi
jogar,
há aqueles que são
lembrados por quem viu:

Manga,
Gilmar,
Ortiz,

Juvenal
e
Rodolfo Brandão,
que brilharam no
Democrata de Governador Valadares

e Sílvio,
que hoje,
dedica-se a treinar
os goleiros da Pantera.

domingo, 25 de abril de 2010

Problema moderno

Sei que pode
haver questões
mais sérias
a ser resolvidas

mas uma dúvida,
há muito me
angustia:

por que os blogs
não gostam de parágrafos?

Serei eu um purista,
ultrapassado
defensor
de regras gramaticais?

sábado, 24 de abril de 2010

Poeminha twitteiro

Sempre tive medo
 de que alguém quisesse 
seguir minhas ideias 
 agora, fico por aí,
 tentando conquistar
 seguidores no twitter

 sou ave que gorjeia
 aqui
 trocando notas breves
 com aves de qualquer lugar
 mas, não me sigam 
se eu estiver voando
 pois vivo 
em constante caos aéreo

 sou biruta que não entende
 de ventos 
 não me sigam 
quando eu estiver 
singrando mares vermelhos 

 sou pássaro 
que não tenho 
o tempo certo 
de bicar o peixe
 quando ele aparece

 não me sigam
 enquanto
 eu enfrentar
 algum maremoto
 não me sigam nunca
 muito de perto
 não sou esperto
 mas às vezes, arisco

 não se preocupe
 se eu me perder 
no fundo do meu
 mar morto
 é a única chance
 que tenho
 de ressurgir

 não me sigam
 se eu estiver
 sangrando
 não sejam testemunhas 
da minha veia impoética
 não me persigam
 pois não tenho culpa
 não me sigam
 se eu estiver chegando
 pois nem sempre sei 
se era aquele mesmo
 o destino

 não me sigam, 
quando eu estiver andando,
 porque posso estar cegando
 cegando e andando
 para o que acontecer
 não me sigam nunca
 porque eu sempre corro risco

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Micro-conto

O menino armou um alçapão.
Entrou um canarinho.
Ficou preso.
E soltou um silvo.
O menino soltou um assovio
e soltou o pássaro.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Micro-conto

A mama
olhou para
o bebê
e falou:
- toma!

Ele a beijou
no peito.
Por cinco minutos.

Micro-conto

Ela pediu:
- feche os olhos.

Eu fechei.
Ela se abriu pra mim:
- é o fim.

E foi.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A gatinha



Ela se prepara
e se repara

fantasia
e mundo real
não se separam



terça-feira, 13 de abril de 2010

O seguidor

Seguir o amor,
mas ele não é cego?

Aonde vai
quem segue amando?

Amor de explosão,
que faz o coração
rasgar
os termos de compromisso,
firmados em acordo
com a razão.

Mas, um dia,
vem um vendaval e...
pobre do amor!

Morto por soterramento.

Tem sorte
quem teve tempo
de erguer um muro de contenção.

Tem sorte
quem teve espaço
e não se sufocou
de tanto amor.

Tem vida
quem sobrevive à morte
de um amor.

É atestado de competência
seguir amando,
sem precisar ter
um amor.

sábado, 10 de abril de 2010

Missão do interior

Semifinais do campeonato mineiro de futebol:
o Democrata, de Governador Valadares,
enfrenta o Atlético.

O Ipatinga encara o Cruzeiro.

Tigre e Pantera chegaram longe
na competição.

Mas, podem ir além.
Possibilidades diversas para
a decisão.

A primeira possibilidade
é a mesmice.
O esperado por todos
é que Atlético e Cruzeiro
eliminem os seus rivais
e façam a final de sempre
no campeonato.

Outro desenho para a decisão
é um time do interior
contra um da capital.
Já tiraria do lugar comum
o desfecho do torneio.

Mas, diferente, mesmo,
seria Ipatinga e Democrata
conseguirem eliminar Cruzeiro
e Atlético.

Teríamos não só uma
decisão rara
ente duas equipes do interior.

Seria uma final
entre dois times do leste de Minas.

Quem sabe?
O futebol é um dos esportes
que mais derrubam
favoritos.

Impossibilidades,
no mundo da bola,
são superadas
pelo imponderável
e pela vontade de vencer.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O bom moço

Depois do almoço
 bom pasto
 o bom moço
 usa a pasta de dente
 depois despista balança
 a pança e a chave
 pega o carro
 invade a pista contrária
 ultrapassa os limites
 nem se lembra 
dos números dos mortos
 de todo fim de semana
 ele não está a fim de
 parar nem de pensar
 ele é bom moço
 inocente imprudente

domingo, 14 de março de 2010

Democrata e Uberaba

O Democrata ganhou do Uberaba de 5 a 0.
O time do triângulo mineiro sentiu bastante o calor das 10 da manhã em Governador Valadares.
Aliás, o calor pode ter tirado também muita gente do estádio.
Apenas 1.900 pagantes.
Para as tradições do Democrata, que faz boa campanha,
é pouco.

O que não foi pouco
foi o futebol jogado pela Pantera.
O time aproveitou o desgaste físico do Uberaba,
que disputa também a Copa do Brasil,
e construiu com facilidade a goleada.

O primeiro gol foi uma pintura:
um chute forte, de fora da área, do lateral-direito Alex Santos.
A bola fez uma curva e enganou o goleiro.
Ainda no primeiro tempo,
lance de oportunismo de Eraldo.
Ele estava no lugar certo pra conferir o lance,
que começou com Magal pela esquerda.

No segundo tempo, o mesmo Eraldo,
em cobrança ensaiada de falta;
Ely Thadeu, aproveitando bem a bola lançada em profundidade.
E novamente, Eraldo, com muita categoria e tranquilidade,
deu números finais ao jogo.
Os 5 a 0 ilustram bem
o que foi a superioridade do Democrata em campo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A pista

Tem uma
pista?

Ainda que molhada,
escorregadia

que seja
mínima,

centelha
apenas

Tem uma
pista?

Mesmo
que não seja um
farol,

pelo menos
um cão de guia

um mapa
em Braile

mesmo que
o tesouro
seja só lenda

eu só preciso
ouvir de alguém
a frase
da salvação:

- eu tenho uma pista.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Deselogio da verdade

A verdade
é na verdade
uma forma
de vaidade

acha que
a vida
só floresce
ao pé da letra

e que o caminho
é sempre reto
sem nuances

a verdade
tem a pretensão
de dizer
que o fato é o fato
sem versões

e o que a vista
enxerga
é o real
sem espaço
para interpretações

a verdade
quer ser tão cega
quanto a justiça

sábado, 30 de janeiro de 2010

Escala de Valores

Ordem
vale menos
que harmonia

evolução
está à frente
do progresso

paz
é muito mais
que
ausência de guerra

domingo, 24 de janeiro de 2010

Minha aldeia

Da minha aldeia
vem meia dúzia
de ideias

das minhas ideias
vem todo erro
todo acerto
que eu cometo

toda a água
e o cimento
dos meus planos

mas não se
esqueça
que entra areia
nos projetos,
no concreto

e até naquilo
que está certo
e combinado

jato de areia vai
no quadro abstrato

Vem da minha aldeia
a saudade do trem
e a primeira noção
do que é gente do bem

vem de lá
da minha audácia
o medo também
de me descolar
em excesso

e isso me fazer mal
me fazer um mau
representante
do jeito de ser
da minha aldeia

lá onde tudo é bom
onde se ouve o som
dos sinos

e o corre-corre
não é dos homens de negócio
é apenas o pique-pega
dos meninos

na minha aldeia
onde tenho tudo:
mãe, irmãos, memória
e até boa noite de sono
eu tenho.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Efeito

Naves espalhadas
pelo sonho

nuvens acordadas
pelo estranho
raio

um risco lento no céu,
relâmpago
em câmera lenta
se refazendo
da sonolência

é que na noite anterior
a natureza
tomou remédio
para dormir.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Millôr

Não é recomendável ler
Millôr Fernandes
a quem tem a pretensão
de escrever algo

ele nos faz
ter a sensação
de que já escreve
tudo o que a gente
gostaria de assinar em baixo

Millôr
é uma espécie de controle
de qualidade:

se não dá para burilar um texto
para chegar pelo menos perto
do nível dele,
é melhor nem começar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

As listas e "A lista de Schindler"

Com dezessete anos de atraso (o filme é de 1993), acabo de assistir "A lista de Schindler". Dizer que é uma obra-prima, assinada por Steven Spielberg, é mero lugar comum. Durante as 3 horas e 17 minutos de exibição, o que se vê é um desfile de imagens primorosas (até nas cenas mais chocantes, de execução de judeus pelos nazistas, percebe-se o cuidado para se evitar a vulgarização e a redundância), atuações marcantes, diálogos consistentes e aula dupla: de cinema e de história da humanidade. Inesquecível a cena em que Schindler, em vez de se vangloriar de ter salvado 1.100 judeus do holocausto, chora por ter chegado à conclusão de que poderia ter salvado alguns outros, com um pouco mais de esforço. Impossível assistir sem se emocionar. Não deixou de ser tocante a cena final, em que sobreviventes do holocausto, parte dos 1.100 da lista, vão ao túmulo de Schindler e depositam, cada um, uma pedra como homenagem. Alguns vão acompanhados dos atores que os representaram no filme. E já que de vez em quando, aparecem listas de melhores filmes, aproveito para colocar "A Lista de Schindler" na minha lista dos melhores filmes de todos os tempos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pergunta e Resposta

Uma dúvida
é uma dádiva

quanto mais longe
a resposta

mais risco
de não ser encontrada

mais rico
o caminho
da procura

menos reto
o raciocínio

uma estradinha
de terra

um atalho
não se sabe para onde

uma via de acesso
a um lugar
a uma época
a uma fonte

nenhuma trilha
responde
nada

nem
esconde

apenas
se apresenta
como aposta

e a vantagem
da interrogação
sobre outros sinais
de pontuação
é exatamente
essa possibilidade
aberta

vem sempre
no fim
da frase
mas não é,
necessariamente,
um ponto final.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cores de versos

Meus versos brancos
não são sérios
eles brincam

meus versos brancos
não são meus

chegam antes
que eu pegue no sono
e se apossam de mim

meus versos brancos
são tão livres
que até mudam de cor
sem me avisar

mas eu gosto
quando eles ficam
azuis,
de repente amarelos,
vermelhos numa tarde,
verdes ao amanhecer
ou se encardem
com a poeira da sala
(a sala é onde fica a estrada
de quem escreve)

quando ficam
negros
parecem
tomados
pelo ser de toda a
gente preta,
de toda a gente índia

os versos ficam então pretos
pretos da África,
índios da Índia
pretos, índios, brancos, pretos
amarelos, vermelhos, olhos azuis,
índios, olhos vermelhos, pretos
e marejados, verdes e amarelados
do Brasil

os meus versos
(que não são meus)
querem me acariciar

são tão breves
mas
conversam comigo
me levam pra passear

desconfio que meus
versos me preservam
quando não me guiam
a lugares mais profundos
nesse mar

sabem que eu corro o risco
de me afogar

sábado, 2 de janeiro de 2010

O cafezinho

De manhã
o mesmo sono

não há
galo
nem terreiro
ou berreiro de menino

mas, o sol
na janela
é o cavaleiro
com a lança
à procura da preguiça

não o bicho
que mora na árvore
mas o pecado que
acorda
todo dia
ao meu lado

da casa vizinha,
vem um cheiro antigo
e reforçado
vem um som entornado

café
sendo passado
do coador
para a garrafa

e a convicção
de que hoje,
ninguém consegue
fazer um café
tão gostoso
como esse
que o meu nariz
bebeu

já me sinto
alimentado
e marco
no bloco de notas:
primeiro sorriso do dia

ser feliz
já é outro papo

um cafezinho só
não basta

era preciso
que aquele cheiro
perfumando todo o quarto
tivesse vindo
da minha cozinha.

Mar: o filme

Salta
rápido

ou
mergulha logo

que a onda
vem
alta
e
louca

não é
maremoto

e se
tudo é
tão claro
escurece
um pouco
esse ponto
de vista
usa
os óculos
de sol

toda
onda
tem um
som original

então
nada de
preguiça
de ouvir
tudo o que vem do mar
sem dublagem

toda onda
é uma encenação

um filme
rodado
na linguagem
verde azul marinha
das profundezas
da alegria da tristeza e dos mistérios
do mar

presta
atenção
na legenda

mas não
percas
as nuances
de cada cena

e nem percas
tempo de contar
a sinopse para alguém

porque o mar
é assim
cada vez que
se lhe assiste
é um outro filme.


p

Quem sou eu

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Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.