Recados de brisa e vento

Brisa passou

perto de mim

e disse:

vento vem

aí!

Ele veio

e assoprou assim:

olhe pra cima

E eu 

entendi:

era para eu sentir

o clima.

Quando o amor já mora em casa

Quando eu chego,

nem sei o que digo.

Lá no fundo,

sozinho,

eu peço,

em silêncio: 

fique comigo.

Quando eu chego,

não sei o que faço

Mas de repente,

ganho noção

de tempo e espaço:

estou a poucos 

metros,

e a alguns segundos

de um abraço.

Caminhos de fazer nascer um amanhecer

Vi o início da manhã,

quando um sol ria

a iluminar o passeio

por onde eu ia

O encontro

na calçada

prorrogava a madrugada

ao fazer nascer em mim

a insensatez de um sonho

Eu abria bem os olhos

pra acompanhar

o abraço que estava 

a caminho

e produzia em mim

a embriaguez de um vinho

 

  

Poema perdido de manhã

Todos os dias 

de manhã,

surge um poema 

na minha frente,

que eu não sei 

de onde veio

e nem o que quer

Talvez queira

pedir informação

ou precise de 

alguém que o leve

a um lugar qualquer

Quem sabe

esteja em busca

de algum perito,

um especialista

em transformar poesia

em verso escrito

Às vezes,

é versos comprido,

como uma prosa.

Noutras,

é breve,

como uma rosa.

Investigação preliminar

Quem acha que o poema nasce,

saiba que o verso 

não tem pai nem mãe

Quem pensa que a poesia brota,

vá ver se encontra

um pé de estrofe no chão

Mas pode até ser

que uma rima ecloda

no meio do povo

E o poema abandone 

a casca do ovo 

e saia a voar

Quem consegue

se apropriar

do voo,

sem prender o pássaro,

resolve o problema.

No caso, poeta é quem

deixa solto o poema. 

Bilhete de bar

Desejo para uma vida sem trauma:

que o adulto a habitar o corpo,

jamais dê ordem de despejo

para a criança que mora na alma

Nada como o tempo

O que hoje é apenas uma leve lembrança,

um dia, já teve o peso de um trauma

Quem explica essa mudança?

O tempo, que alivia e acalma