sábado, 30 de janeiro de 2010

Escala de Valores

Ordem
vale menos
que harmonia

evolução
está à frente
do progresso

paz
é muito mais
que
ausência de guerra

domingo, 24 de janeiro de 2010

Minha aldeia

Da minha aldeia
vem meia dúzia
de ideias

das minhas ideias
vem todo erro
todo acerto
que eu cometo

toda a água
e o cimento
dos meus planos

mas não se
esqueça
que entra areia
nos projetos,
no concreto

e até naquilo
que está certo
e combinado

jato de areia vai
no quadro abstrato

Vem da minha aldeia
a saudade do trem
e a primeira noção
do que é gente do bem

vem de lá
da minha audácia
o medo também
de me descolar
em excesso

e isso me fazer mal
me fazer um mau
representante
do jeito de ser
da minha aldeia

lá onde tudo é bom
onde se ouve o som
dos sinos

e o corre-corre
não é dos homens de negócio
é apenas o pique-pega
dos meninos

na minha aldeia
onde tenho tudo:
mãe, irmãos, memória
e até boa noite de sono
eu tenho.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Efeito

Naves espalhadas
pelo sonho

nuvens acordadas
pelo estranho
raio

um risco lento no céu,
relâmpago
em câmera lenta
se refazendo
da sonolência

é que na noite anterior
a natureza
tomou remédio
para dormir.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Millôr

Não é recomendável ler
Millôr Fernandes
a quem tem a pretensão
de escrever algo

ele nos faz
ter a sensação
de que já escreve
tudo o que a gente
gostaria de assinar em baixo

Millôr
é uma espécie de controle
de qualidade:

se não dá para burilar um texto
para chegar pelo menos perto
do nível dele,
é melhor nem começar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

As listas e "A lista de Schindler"

Com dezessete anos de atraso (o filme é de 1993), acabo de assistir "A lista de Schindler". Dizer que é uma obra-prima, assinada por Steven Spielberg, é mero lugar comum. Durante as 3 horas e 17 minutos de exibição, o que se vê é um desfile de imagens primorosas (até nas cenas mais chocantes, de execução de judeus pelos nazistas, percebe-se o cuidado para se evitar a vulgarização e a redundância), atuações marcantes, diálogos consistentes e aula dupla: de cinema e de história da humanidade. Inesquecível a cena em que Schindler, em vez de se vangloriar de ter salvado 1.100 judeus do holocausto, chora por ter chegado à conclusão de que poderia ter salvado alguns outros, com um pouco mais de esforço. Impossível assistir sem se emocionar. Não deixou de ser tocante a cena final, em que sobreviventes do holocausto, parte dos 1.100 da lista, vão ao túmulo de Schindler e depositam, cada um, uma pedra como homenagem. Alguns vão acompanhados dos atores que os representaram no filme. E já que de vez em quando, aparecem listas de melhores filmes, aproveito para colocar "A Lista de Schindler" na minha lista dos melhores filmes de todos os tempos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pergunta e Resposta

Uma dúvida
é uma dádiva

quanto mais longe
a resposta

mais risco
de não ser encontrada

mais rico
o caminho
da procura

menos reto
o raciocínio

uma estradinha
de terra

um atalho
não se sabe para onde

uma via de acesso
a um lugar
a uma época
a uma fonte

nenhuma trilha
responde
nada

nem
esconde

apenas
se apresenta
como aposta

e a vantagem
da interrogação
sobre outros sinais
de pontuação
é exatamente
essa possibilidade
aberta

vem sempre
no fim
da frase
mas não é,
necessariamente,
um ponto final.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cores de versos

Meus versos brancos
não são sérios
eles brincam

meus versos brancos
não são meus

chegam antes
que eu pegue no sono
e se apossam de mim

meus versos brancos
são tão livres
que até mudam de cor
sem me avisar

mas eu gosto
quando eles ficam
azuis,
de repente amarelos,
vermelhos numa tarde,
verdes ao amanhecer
ou se encardem
com a poeira da sala
(a sala é onde fica a estrada
de quem escreve)

quando ficam
negros
parecem
tomados
pelo ser de toda a
gente preta,
de toda a gente índia

os versos ficam então pretos
pretos da África,
índios da Índia
pretos, índios, brancos, pretos
amarelos, vermelhos, olhos azuis,
índios, olhos vermelhos, pretos
e marejados, verdes e amarelados
do Brasil

os meus versos
(que não são meus)
querem me acariciar

são tão breves
mas
conversam comigo
me levam pra passear

desconfio que meus
versos me preservam
quando não me guiam
a lugares mais profundos
nesse mar

sabem que eu corro o risco
de me afogar

sábado, 2 de janeiro de 2010

O cafezinho

De manhã
o mesmo sono

não há
galo
nem terreiro
ou berreiro de menino

mas, o sol
na janela
é o cavaleiro
com a lança
à procura da preguiça

não o bicho
que mora na árvore
mas o pecado que
acorda
todo dia
ao meu lado

da casa vizinha,
vem um cheiro antigo
e reforçado
vem um som entornado

café
sendo passado
do coador
para a garrafa

e a convicção
de que hoje,
ninguém consegue
fazer um café
tão gostoso
como esse
que o meu nariz
bebeu

já me sinto
alimentado
e marco
no bloco de notas:
primeiro sorriso do dia

ser feliz
já é outro papo

um cafezinho só
não basta

era preciso
que aquele cheiro
perfumando todo o quarto
tivesse vindo
da minha cozinha.

Mar: o filme

Salta
rápido

ou
mergulha logo

que a onda
vem
alta
e
louca

não é
maremoto

e se
tudo é
tão claro
escurece
um pouco
esse ponto
de vista
usa
os óculos
de sol

toda
onda
tem um
som original

então
nada de
preguiça
de ouvir
tudo o que vem do mar
sem dublagem

toda onda
é uma encenação

um filme
rodado
na linguagem
verde azul marinha
das profundezas
da alegria da tristeza e dos mistérios
do mar

presta
atenção
na legenda

mas não
percas
as nuances
de cada cena

e nem percas
tempo de contar
a sinopse para alguém

porque o mar
é assim
cada vez que
se lhe assiste
é um outro filme.


p

Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.