domingo, 12 de maio de 2019

Noites de porta aberta

Corra, que a madrugada vem
Beba, chore, xingue,
e ria como ninguém.
Sente-se em algum canto
e se der, cante também

Se o tempo
for curto,
não se aborreça,
que de qualquer jeito,
o dia vem e
a madrugada vai.

Então, aproveite:
seja irmão, amante,
filho; e se der,
seja pai.

Nem todas as madrugadas
voltam.
Mas, há aquelas que,
de dentro de nós
jamais se soltam.



quinta-feira, 25 de abril de 2019

Mais que um carro

Cabe tudo
no bojo dessa estrada:
sol, cansaço,
sombra  e madrugada

Sabe tudo
quem diz que
esse chassis
é bem mais
que o chão de um carro

É o piso de sustentar
sonho
pra seguir sempre
paralelo ao traçado
dos caminhos

O míni vai indo
mundo afora
Quem está dirigindo?
Seja quem for,
por dentro está rindo.

Sem medos de viagem
sem pesos de bagagem
passando livre e leve
pelo deserto,
que mesmo longe,
parece agora
de casa tão perto.

Dobrar curva,
subir e descer morro;
sem saber direito
quando é que eu paro
ou até onde eu corro.
O que importa
é estar dentro.

Minha  missão é a aventura
ele fica com a função de me levar.
E é essa a tarefa mais difícil.

Persistência,
técnica:
e paciência:
que haja tudo
nesse ofício

Pesquisa e teste,
erro e acerto,
estudo e compromisso,
fim da linha
e reinício,
parceiro de caminhada.
Mais do que carro,
o Baja é tudo isso.



 

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Elogio do empréstimo

Livre-se do livro
há mais coisas pra fazer
Coma logo essas frases
anote palavras novas
depois arrote de prazer
Livre-se do livro
ele quer voar
páginas são asas
e há mais gente pra embarcar

quarta-feira, 27 de março de 2019

Indicativo sem modos

Teu passado
te persegue?
Não reclames,
porque o presente
te abandona.
É um bumerangue
voando para o futuro.

Teu passado
te condena?
Calma,
que teu futuro
te espera.
E o que importa
é o teu  presente.
Mas, que pena!
Um instante,
e já era!

Onde queres
teu passado?
Sob os teus pés
no assoalho
ou te mirando
do fundo
do espelho?

O futuro
estava aqui,
presente.
Bateu asas,
mas acaba de
arremeter.

terça-feira, 26 de março de 2019

Um certo erro

Entrou pela porta
onde estava escrito:
saída

Viajou pra bem longe
pra ver que a volta
parece mais perto que a ida

E descobriu que 
assim é a vida:
Chorar na praia
rir no deserto
uma mistura
do que parece errado
com o que parece certo.
 
 

sexta-feira, 15 de março de 2019

Segredo de quem chora

Só sabe desse segredo
quem já chorou
e quase morreu de medo

Quem, de frente para o perigo,
de repente abriu um riso
e percebeu que chorar 
não é feio e até pode ser belo
e secar lágrima
é enxugar gelo.

Sem versos hoje

Poemas, fujam de mim!
Rimas, não se aproximem!
Trocadilhos, redondilhas,
versos brancos
vão dar o ar da graça
a imaginações mais inspiradas!

Não vou por no mundo
filhos que vão morrer
abandonados,
sem leitores.

Abro mão do meu
papel de poeta
Esta folha, hoje,
está muda.
A árvore dos versos,
sem muda.

sábado, 2 de março de 2019

Multidão no corpo

Se eu pudesse ser dois,
não deixaria nada pra depois.

Se eu fosse três,
ia poder ser tudo,
todos de uma vez.

Eu poderia ser quatro:
quatro estações,
quatro evangelistas,
quatro rapazes de Liverpool,
quatro direções:
leste,oeste, norte e sul.

Se eu fosse cinco, 
também não seria ruim.
Pensando bem,
cinco não.
Com tanta gente assim,
eu nem brinco.


Operação inócua

Congelar lágrimas...
Dá muito certo não.
De repente,
lá estou eu,
encharcando
e torcendo o pano.
Dentro do peito,
de tempos em tempos,
vem uma inundação


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Escala de tarefas

Cale a boca
dobre a língua
arregale os olhos
tape o nariz
abra os ouvidos
vire o rosto
dê a outra face
tire a mão de mim

Mas se nada disso
nenhum sentido faz
comece de trás pra frente,
traga para o início o desfecho

abra a boca,
estique a língua
feche os olhos
mostre o nariz
cubra os ouvidos
encoste o seu começo
no meu fim

tire a barriga da miséria
Dê um passo maior que
a perna
quebre a cara
mostre os dentes

e se ainda assim,
não estiver feliz
mexa nas dosagens
do que foi feito pra ser frio
e do que deveria ter sido quente

desfaça o que igual se fez
faça o que eu quis
mas não cheguei a fazer
bem-vindo ao mundo dos descontentes
busque outros roteiros
e se perca nas inequações
e combinações diferentes.

Custo benefício

Calcule o tempo,
mas  pelo menos
perca a hora
Faça e refaça as contas
permaneça em dia

Meça cada palmo
do espaço,
mantenha o controle
do leme
conduza suavemente o barco,
dobre as roupas de cama,
mas ao menos esqueça
o costume
de juntar as pontas do lençol

Fique calmo:
se tiver de vender o almoço,
pelo menos,
vai dar
pra comprar a janta

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Superposições

O contraponto desse parapeito
é o rio louco, que extrapola o leito

Para o abismo imenso,
é fácil acolher o corpo e o resto
Uma lástima,
pois queda livre
é liberdade a contragosto

Pelo menos,
mostre logo esse rosto,
quem sabe assim, eu cego,
enxergue o seu céu
no meu inferno superposto

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Treinamento de circo

Ludibriar a fome de luz,
comendo um biscoito obscuro
degustar um dia claro
contaminado por um instante puro

Dizia algo,
errava na dose
tomava mais remédio
do que pedia a dor

Gritava em paz,
tinha uma pereba em flor
mas era menos sofrido
que abrigar um silêncio agressor

Resolvendo a questão

Bebeu um tanto,
sem saber exato o quanto
Ficou a ponto de querer fazer poema

Quem nos livrará de tal perigo?
Que nada! Dê a ele um papel
que pra qualquer verso posa de amigo
e acabe logo com o problema.

Ritual de chuva

Sozinho na chuva,
sem um pingo de medo
da tempestade em mim

A chuva fina
também molha a terra,
onde os mortos apodrecem sim.
Mas ali, também
brota a vida,
e nasce a improvável rima
entre começo e  fim.


A conta, por favor!

Pago o preço e
reconto os números
dos nomes que eu já tive na praça
Talvez, eu mereça
esse brinde, essa taça.

Pago o pato
pelo que carrego no peito
e quando o bicho pega
tenho de escolher
entre o cachorro e o gato
ou me recolher ao leito.

E sei que no resumo
da refrega
não morro e não mato
sou apenas um sem jeito.

Espelho bêbado

O vinho me quis tonto
e se eu me sinto bom,
o espelho me diz: tinto!

Agora, um tanto quanto absorto
vou por um caminho que parece reto
logo eu, um tanto quanto torto. 

sábado, 5 de janeiro de 2019

Viagem à espera de um roteiro

A rota, um dia, 
vira rastro
Quem achou o x
fez o mapa
e se alinhou
com algum astro

É um filme
sobre quem 
seguiu viagem
ou sobre
quem perdeu o trem

Esse roteiro está
à espera
de algo
que o reanime
e retrate alguém rindo
Quem sabe a rosa,
que, à noite,
é uma estrela dormindo.


Sem título ainda

Tão simples
e sem nexo

postagens
repostagens

pastagens
reportagens









Amassados

Eles se amassam
Se eles se amassem
que se amassassem!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O melhor olhar

Desgovernado
Foi esse o seu melhor olhar pra mim
Veio de lado,  sem direção
me pegou no contrapé
e me jogou na contramão.
Sem rumo, assim, desnorteado
acabei sendo guiado
por essa contradição

Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.