segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Votos para um dia de verão

Desejo a você
sol forte, sombra, água fresca
e barraca.

À tarde, vento suave,
abraço quente
e chuva fraca.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Haikai anti-rotina

No fim da lua de mel,
haja pelo menos sal
para salvar o céu

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Crônica de sábado (Um sábado quente)

Minha filha decidiu assar pão de queijo para o café da tarde. Depois de alguns minutos, conseguiu ligar o forno do fogão novo. E veio a primeira pergunta:
- pai, quanto tempo demora para o forno ficar pré-aquecido?
- Não tenho a menor ideia, minha filha.
Passados alguns instantes, ela está assentada no chão, de olho no vidro do forno. E vem a segunda pergunta:
- será que é normal o pão de queijo "suar"?
- Ah, deve ser sim, minha filha. Com o forno ligado e com esse calor de Governador Valadares, quem não sua?

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Dezembro

Em meio às luzes
de Natal,
começou a revelação
da brincadeira do amigo oculto.

Depois que cada um
entregou e recebeu o presente,
ele respirou fundo:
estava pronto para o
que ia começar:

chegara o momento
da troca de olhar.

 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Passa um filme

Lá vem ela
a se exibir pra mim
completamente nua
Eu a vejo tão feia e tão bela
quando estou na rua
fazendo o meu caminho
de Santiago de Compostela

Haikai na chuva

Um raio cai do céu
sobe à cabeça do poeta
e um haikai no papel

domingo, 15 de setembro de 2013

O voo do haikai

Um haikai
voa sobre minha cabeça,
cai em cima da mesa
e se despedaça no chão.
Eu, com a faca
e o queijo na mão,
fico sem a sobremesa
e sem o pão.

Três pontos

Decidiu entregar os pontos:
afirmações,
exclamações,
interrogações.
De vida,
não queria mais nenhum sinal.
Já havia retirado as vírgulas do caminho.
Sem aspas nas palavras.
Sem palavras.

Só não sabia resolver
o ponto principal:
a abstração das reticências,
esses três porquinhos,
que não têm medo
do lobo mau.
Três pontinhos,
que debocham do ponto final.


Três pontos

Decidiu entregar os pontos:
afirmações,
exclamações,
interrogações.
Queria eliminar
até as vírgulas.
Era o momento,
era o ponto final.
Só não sabia
resolver o ponto principal:
a abstração das reticências,
esses três pontinhos,
três porquinhos,
que não têm medo nem do lobo mau



Fim de carnaval

O coração virou um porto seco.
Sem navios, sem mar,
sem graça.

Nada a exportar.
E a quem importa
se não há mais quem esperar?

Estava quase aprendendo a andar,
e de repente não via mais o chão.

Estava quase aprendendo a voar,
mas faltava ar.

Um aperto no peito
e não era abraço.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Restos mortais

Seria até alguém na vida,
se fosse.

Mas, se foi,
é fóssil.

Adaptação

Dentro do peito, carregava uma verdade.
Muito viva, inquestionável, verdade.

Mas, algumas verdades não sobrevivem
a outras verdades.

E é por isso que quem carrega uma,
às vezes, suporta o falso.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Toda prosa

A poesia anda toda prosa
pintou de verde
o verso branco
rimou com brinco
a frase solta.

A poesia
escreve nuvens no azul do céu
veste âmbar para fazer dormir o sol
e no início da noite,
escorre preto e rosa no papel.

E o poeta...
Bom, o poeta, nessa hora,
é um menino a se lambuzar no mel.

Era

Pois é
Era?

Pois era:
poeira de estrada
ausência na estada
estrela na chuva
semi-reta na curva
semideus no inferno

Pois é
pois ia assim
a mil
sem levar a mal
os que diziam
que não era nada.



sábado, 20 de julho de 2013

Amor de carnaval


Os dois se conheceram em abril.
Estava decidido:
apenas um encontro.
Nada de "eu te amo".
Amor de carnaval, apenas.
No dia do índio,
outro encontro.
Depois, aproveitaram
o feriado de primeiro de maio,
o domingo das mães.
Namoraram horas
um dia depois
do dia dos namorados.
Veio julho
e o calendário cheio de
datas nada a ver.
Mas, para constar,
ficaram juntos
no quatro de julho
e comemoraram esse
jeito independente
de se gostar.
No dia catorze,
quase uma revolução:
pensaram em parar por ali.
Mas, os corações quase
pararam.
E aquela ideia sumiu,
fez uma saída à francesa.
É sim, um amor
de carnaval.
Por enquanto,
um carnaval da Bahia:
sem data pra acabar.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Distração

Saía de casa
e seguia vendo coisas no caminho.
Parava diante dos jardins
e se distraía com a paisagem.
Um certo dia,
percebeu que a paisagem
lhe deu uma piscadinha
E não era um relâmpago.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Fila

Fila
pra pegar
a senha
pra entrar
na fila
e pagar
a conta.
Fila
pra
esperar
saúde
no posto
e fazer
de conta
que o
atendimento
vale o
nosso
imposto.
Fila
pra confessar
com
o padre
e fingir
o arrependimento
que
nos
livra
do inferno.
Fila
para
dar
a volta
no quarteirão
e esperar
abrir
a porta da
liquidação.
Fila
pra
tentar
a sorte
no cartão
de loteria
e sair
da fila
dos desesperados.
Fila
de quem
espera
a doação
para entrar na
fila
dos transplantados.
Fila
para
almoçar
a um real
no restaurante
popular.
Fila
que dá
a volta
na desilusão
para
ser mais
um
a bater
na janela
do seu coração.




A mancha de vinho no lençol

A mancha de vinho no lençol
não é apenas mancha de vinho.

É lembrança grudada
do que fomos,
e ainda somos.

A mancha do vinho no lençol
é o suco dos frutos
que plantamos, colhemos e amassamos.

É a marca do desespero
acalmado de
quando nos amansamos.
E de tão cheios de saúde,
querer ficar acamados.

A mancha de vinho no lençol
é nosso sangue estilizado,´
é a taça derramada pelas mãos trêmulas,  
a prova da sede saciada.

A mancha de vinho no lençol
é lambança feita a dois,
é do nosso encontro o resumo.

Quando nus estamos é o que somos.
E ainda que eu não esteja
ou que você não venha,
a mancha de vinho
somos nós no lençol.
Somos sumos.


Mulher de vida

Tinha luzes no cabelo,
alto falantes nos olhos,
vivia com lágrimas na boca,
soltava música pelo nariz.

Tinha a pele manchada de gritos,
o peito surdo de tanto ecoar
encontros 
e repercutir distâncias

Tinha mãos saciadas
de tanto deslizar carícias

Os pés que respiravam caminhos,
pernas que enxergavam qualquer
som por perto
e um corpo que sentia até
o cheiro de uma dança distante.

A alma vivia suja
de amor,
mas o coração
era autolimpante.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Esquadrão anti-bomba

Sempre achou que coração
fosse uma bomba relógio.
Por isso, toda vez que alguém provocava
uma pulsação desenfreada,
cuidava de desarmar
o artefato no peito.

Já estava especialista
em desfazer conexões
que fossem além de uma atração física.
Nada de química.
No máximo, sensações biológicas.

Até que um dia,
se perdeu entre suores
e espasmos corporais.
Começou a confundir
cansaço com satisfação,
desejo com adoração,
encontro marcado
com desespero cronometrado
segundo a segundo.

Vigilante atento,
não foi surpreendido pela paixão
à primeira vista.
Mas, quando deu por si,
já era ao mesmo tempo
sujeito e objeto da conquista.

Continuava a achar que coração
era uma bomba relógio.
Seria mais seguro ter um desarmado,
mais sensato um órgão desalmado.
Mas, agora era tarde:
a bomba estava ali, no colo.
Ele chegou a ouvir a explosão.
Voou pelos ares.

Desde então, passa os dias aos pedaços.
Já sabe que talvez nunca mais volte a ser inteiro.
Pelo menos, provou cientificamente
que não existe essa história de cara metade.
Descobriu, sem querer,
que a felicidade é um quebra-cabeças.
E o prazer está em procurar as peças.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Filtro ocular

No letreiro do ônibus,
está escrita em letras acesas
a palavra Esperança.

Muitos olham e lêem
apenas o nome de um bairro.

Alguns olham,
vêem a mesma palavra,
mas enxergam nela
a senha para uma outra viagem.



terça-feira, 2 de julho de 2013

Antecipação

Percebeu que o outro
precisava de um tempo
e deu espaço,
sentiu falta,
ficou doente
e se internou mentalmente.

Hibernou em pleno verão
numa caverna pós-moderna,
forrada com isolante acústico:
sem eco,
sem sons de batimentos do coração.

Fechou todos as frestas
para impedir a entrada
de qualquer sentimentalismo barato.

Ainda que isso lhe custasse caro.

sábado, 22 de junho de 2013

A lagoa

Pelas beiradas,
o girino passeia
na parte mais mansa da lagoa.

Pelas madrugadas,
o sapo bêbado doma
a hostilidade da noite.

Enluarada,
a lagoa esfinge:
ora, um espelho morto;
ora, um reflexo vivo

e em segundos,
uma gota sólida
invade o espírito da água.

Realiza o sonho,
quem conseguir decifrar o leito
antes do amanhecer.

   

Da desnecessidade de escrever

Pensei em dizer umas coisas
sobre a vida, sobre o mundo
mas Sócrates, Aristóteles e Platão
já disseram quase tudo.

Tive a ideia
de investigar o que sou,
de onde vim, 
o que penso, o que sinto,
pra onde vou.
Mas a filosofia 
adivinhou meu
questionamento 

Já quis cantar uma música,
que fizesse sonhar.
Mas já existe o
Mílton Nascimento!

Para a mente criar asa,

preciso vestir bem as palavras 
antes de elas saírem de casa.

Mas,  é preciso cuidado,

para que a ideia,
de ponte 
não vire muralha
E Belchior
já avisava:
palavras são navalhas.

Seja então minha alma
como a de Chico Xavier,
mestre em acender luzes,
em tirar o peso das cruzes.

Foi então que  rascunhei
umas frases.
Quem sabe eu criaria
uma obra relevante?

Mas para que?
Já tenho um 
Guimarães Rosa
na estante.

Só me resta reconhecer que nada sei.
Mas até isso, Sócrates já disse antes.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Reencontro marcado

Às quartas,
às quintas,
no quarto,
às claras,
às escuras.

Às vezes,
quando der,
nas folgas,
nas tréguas,
quando vier.

Enquanto for
de nós dois
esse querer.

Encontro secreto

É da cabeça aos pés
e do começo às dez da noite
de qualquer dia desses.

Tivesse um tempo
e eu ficaria pra sempre
a sonhar que estamos juntos

e a brincar que estou tonto
de tanto beber você.

Coração está inundado.
A alma, irrigada.
O corpo entregue,
sem medo.

Temos um segredo,
empenhado em nos proteger.

Vazamento


Era pra ser
a água rasa de um vazamento na rua.
Mas, tomou forma e volume de profundeza
de mar.

Aos poucos, vai ganhando ritmo lento
da correnteza de um rio.

E assim, vai esse traçado
entre o risco da inundação
e a generosidade da irrigação.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Poemagens

Postar poemas,
poemar postagens,
apostar nos números,
enumerar mensagens.

Namorar as letras,
reformular as imagens,
descolorir as palavras,
desbotar as frases.

Abreviar os pronomes,
porque a vida é breve,
e o navegador é pesado.

Só o navegante é lento
e não desiste de procurar
a poesia perdida

Vasculha o blog, o sítio de buscas,
joga a rede no mar,
joga a sede no dedo

e bebe o barulho das teclas.

Paraíso em chamas

Amar é o céu?
Mas, então o que é todo esse
calor no meu peito?
Se no paraíso,
o coração se derrete,
o estômago arde
e a cabeça está em chamas,
o que vai acontecer
se vier o inferno da desilusão?

sábado, 16 de março de 2013

Do Além


A voz não saía;
vazava.

A vez não vinha:
passava.

O vento não dizia nada:
apenas soprava.

A chuva, não.
Essa trazia um recado.

Mas, ninguém sabe
o que era 

se mensagem de alerta,
de esperança
ou medo.

A terra bebeu
esse segredo.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Frase da faixa

Justiça e liberdade
liberdade e justiça
não necessariamente nessa ordem
ou em ordem alguma

Justiça e liberdade
na falta ou apesar do progresso
ainda que na desordem

Liberdade e justiça
na faixa branca da bandeira
no desbotado verde
que descobre a pátria inteira

Justiça e liberdade
salpicadas na desordem
das estrelas que se espalham
na esfera azul do nosso peito

Mas, suponha
que a frase da bandeira
mudasse e ficasse do seu jeito
era só buscar duas palavras
e refazer o que está feito

Aquela estrela sozinha
não é só o distrito federal
é contraponto à amarelês
do losango de nossos medos

A estrela tem nome
O nome dela é justiça,
o apelido é liberdade
Não precisa ser na ordem
Liberdade
Justiça

A escolha do nome 
só tem um critério:
qual breu
iluminar primeiro?
A quem acordar
olhando  o céu numa serenata?

Na desordem da escuridão,
o coração sempre encontra a luz exata!



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sabores

Eu vou ali pular
eu vou ali amanhã,
de noite, à tarde
Eu vou ali
pra lá
eu sou daqui
mas vim de outro lugar

Estou assim,
com o futuro bem passado,
moído,
torrado
E o presente,
sem tempero,
mal preparado

Mas, qualquer coisa,
abra o vinho,
traga o azeite
Aceite esse mal,
que é para o bem:
hoje, para a gente viver
tem de ser vida sem sal

E o sabor?
Ah, o sabor é brincar
de descobrir onde o prazer
se esconde
Toda criança sabe,
mas finge que não,
só pra poder procurar.

Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.