segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O mar e eu

Eu não me
entendo
com o mar

ele me
faz belos
discursos

me aponta
filosofias
sabedorias
e parábolas

desde o
grão de areia
até a história
de Jonas
na barriga da baleia

Mas,
o mar me deixa
mudo

Fiquei
sem fala
ao escutar
o barulho das
ondas dentro
da concha

descobri
que o mar
é o outro nome
do amor

Tenho medo
de mergulhar

Sou incompetente
para o mar

O mar e os mineiros

Quem
é filho de Minas
é menino de rio

contempla
margens
conhece
os remansos

e pra saber
de cor as curvas
já se entendeu
antes com
as montanhas

Mas,
mesmo essa
gente de água doce
não desiste
de decifrar
o destino
do rio de sempre
morrer no mar

Talvez
seja por isso
que mineiros
tenham esse
sentimento de perda
por não terem
o mar na porta
de casa

e ao mesmo
tempo,
uma estranha
intuição
de pertencimento
ao oceano

Se Minas
dá tantos
rios ao mar,

é natural
que mineiros
se reconheçam
tão bem no reflexo
da areia
no agito das ondas
ou na calmaria
do cais

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Revelações

As máquinas fotográficas digitais criaram um problema: acabaram com os negativos das fotos.

Era um ritual direcionar a fita escura na direção da luz e tentar adivinhar os retratos. Sem falar que os pedaços de rolo eram equipamentos de proteção ocular em dias de observar eclipses.

Era um acontecimento encontrar um rolo de filme esquecido na gaveta e mandá-lo para o laboratório fotográfico. Havia uma certa tensão para saber se o filme não havia queimado, se parte das fotos não estaria perdida, se teria sobrado exatamente aquela que a gente bateu só para testar a máquina.

Agora, pipocam máquinas, espocam flashes nas festas. Há retratos em profusão no orkut, msn, facebook, twitter.

Na era digital, não se revelam fotos; salvam-se fotos. Não é deste mundo quem não sabe o que é um pen driver. A peça que pode lhe pregar uma peça: você a coloca no computador e descobre que todas as fotos foram salvas. Mas, não são as suas. São do...daquele cara, aquele que tem uma moto... Ah, já vi uma foto dele, tenho-o no orkut; é o... Ah, não sei o nome dele.

Mas, se você salvou a foto certa, tudo bem. Só não sabemos ainda quem vai salvar a magia, a doce angústia que era esperar pela revelação.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Impressões do sábado

As mulheres
saem de casa
muito animadas,
entram num salão
de beleza,
escovam,
alisam,
esticam
e estragam
o cabelo

e ainda pagam
pelo serviço

Os homens
saem de casa
de bermuda
e chinelo,
almoçam porção
de fritas
com cerveja
num buteco,
chegam em
casa,
acham estranho
o cabelo esticado
das mulheres,

mas não comentam
nada

têm de se arrumar logo
porque elas já estão prontas
para uma festa qualquer
típica de um sábado
qualquer.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Crônica das formaturas

De quatro em quatro anos, de cinco em cinco, de três em três... Depende do curso. A cada vestibular, os aprovados formam uma nova turma. No fim do curso, essa mesma turma se forma outra vez. E assim, o verbo formar tem emprego garantido, tanto na entrada como na saída do estudante da faculdade.

E não é que a vida é uma sequência de formaturas? O bebê recém nascido começou a se formar nove meses antes, quando um espermatozoide valente venceu a corrida e se encontrou com um óvulo e os dois formaram um ovo, que virou embrião e... você sabe. Aliás, essa brincadeira começou mesmo mais cedo, quando homem e mulher formaram um casal, que se acertou na cama e deu no que deu!

Depois do nascimento, começa um processo que vai acabar também em formatura! Pai e mãe de primeira viagem aprendem, em pleno voo, a pilotar esse avião, chamado família! Meu Deus! É menino querendo mamar, a chorar, a espernear, a aprender a falar, a cair para aprender a andar. E aí, pronto! Quatro anos se passaram, cinco, seis, sete... E o diploma? Não vão entregar para os pais? Nada disso. Está pensando que formar um filho é simples assim, como formar um jornalista, um médico ou um advogado? Não dá para fazer artigo científico ou monografia sobre a profissão de pai ou mãe sem que se passe pela fase da adolescência. Haja bibliografia, haja regras para ser descartadas, substituídas, reinventadas. Normas da ABNT? De nada valem. Dicas da revista Nova, da Pais e Filhos, do programa de TV, da Super Nany? Já não é mais bibliografia, é multimidiografia! E mesmo assim, sempre vem a conclusão de que é cedo para entregar o diploma aos pobres pai e mãe! E mais cedo ainda para entregar o canudo para os filhos.

Ao passar da infância para a adolescência e daí para a fase adulta, o homo sapiens participa de algumas formaturas na escola! As fotos não deixam mentir: formatura na educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio, na faculdade!

E assim, caminha o formando! Nessa espécie de existencialismo gerundista. Está sempre indo, ensinando e aprendendo, conquistando, decepcionando-se, surpreendendo-se!E acaba por se formar várias vezes, sem solenidades. Ou você se lembra com precisão do dia e da hora da formatura dessa pessoa aí, que as outras pessoas chamam de você?Em algum instante, o verbo formar ganhou o prefixo trans e a gente virou isso que a gente é.

Ainda hoje, às 8h32min, ou amanhã, às 11h25min, ou quem sabe, exatamente agora, você pode estar colando grau. O mestre de cerimônias chama-se Tempo. Preste atenção, quando ele chamar o seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alma, voz e amor

Sua voz
tão mineira
era quase melodia
de festival

Sua
alma de
corpo inteiro

é leve
e densa

e tão
imensa
quanto um
sem fim de cafezal

seu amor
por mim
era maneiro

tão forte
e intenso
mas tão passageiro
feito
paixão de carnaval.

Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.