quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Crônica de ônibus

O ônibus lotado está com cheiro de maçã.
Um rapaz, em pé,
ao lado da catraca,
tem uma sacola de supermercado na mão.
Ele abre e tira de lá,
um bombom.
E come.

Uma mulher fala ao celular.
Um homem ri enquanto Lê uma mensagem no celular.
Outras duas mulheres
falam sobre um celular Ching-ling:

- O meu namorado me deu.
No início, funcionava muito bem.
Depois, a bateria foi ficando
"viciada" (o autor da crônica não sabe
dizer se ela usou a palavra viciada com ou
sem aspas)

- Esse é o problema do Ching-ling!
Já tive um.

O diálogo é breve.
As duas se calam.

Bem ao lado das mulheres,
um jovem manuseia o celular.
Ele usa fones no ouvido.
De vez em quando, olha para fora do ônibus.

O rapaz, perto da catraca,
tira mais um bombom da sacola e come.
Ele usa um boné cor de laranja
Mas, o ônibus continua com cheiro de maçã.

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Eu até já havia chegado ao ponto final.
Não ao fim da viagem do ônibus.
Mas, ao fim desta crônica.
Só retornei ao texto para dizer
que o rapaz, ao lado da catraca,
tirou o terceiro bombom da sacola.
E comeu.
E não sei se algum dia,
ao entrar no ônibus,
vou sentir esse mesmo cheiro de maçã.   

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Transfusão

Que amor tranquilo
que nada!
Ela implorava 
algo que mais do que 
fazer o coração disparar,
provocasse uma corrida rústica
nas veias.
Queria sentir
o sangue disparando,
freando bruscamente
em cada esquina arterial.


Ela esperava, ansiosamente,
por algo que a fizesse
mudar de nome,
mudar de endereço.



Queria um tsunami,
que a fizesse perder a identidade,
que a renovasse toda,
por dentro e por fora.


Estava pronta para
um amor,
que provocasse nela
uma transfusão geral de sangue
e de alma.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Casa desarrumada

Peixes no armário,
ossos no aquário,
poeira caindo do teto
e goteiras embaixo do tapete.

Sonhos no banheiro,
banhos no quarto,
temperos na sala,
sofás na cozinha.

Sopa no garfo,
macarronada na colher,
água no prato,
arroz na garrafa de café.

O sol entra pelo tubo hidráulico,
a lua sai pela porta
e volta pelo ralo da área de serviço.
A casa pós-histórica
exala magia torto e à direita.
Parece ter sido feita para Toquinho e Vinícius.

Casa anti-lógica,
quente.
Sem ar encanado,
sem gás condicionado.

Ainda está na planta,
é projeto,
é semente.
Mas, está pronta na mente
a casa desengonçada.

Quer uma igual?
É só morar ao lado,
porque essa louca morada
é casa geminada.



Cardiologista


Auscultava até onde não havia corações
procurava sinais vitais
em toda parte.
Acreditava na hipótese
de haver água em Marte.
Em meio à falta de notícias,
cruzava informações
que captava no ar:
pombas da paz,
bombas de gás,

mosquitos transmissores,
borboletas transgressoras...

Mas, o negócio dele
era mesmo o silêncio.
Gostava de auscultar.
Desconfiava que o segredo
estava na pulsar das coisas.

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Adiamentos

Um precisava fazer,
outro queria dizer.
Não disse.
Não fez.

Outras noites vieram.
Ações e palavras
adormeceram.

Durante o dia,
intenções,
ensaios.

Um dia sai.
Um dia, agora vai..
Um dia, acontece.

Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.