Olhou para o rio
fez cara de paisagem
Viu a estrada
pensou na viagem
Avistou a montanha
e o deserto em dupla miragem
Foi quando sorriu para a estrada
voltou para o rio
e se assentou à margem
Este é um blog teste. Com a pretensão de abrigar textos, poemas, crônicas...
Olhou para o rio
fez cara de paisagem
Viu a estrada
pensou na viagem
Avistou a montanha
e o deserto em dupla miragem
Foi quando sorriu para a estrada
voltou para o rio
e se assentou à margem
No meio dos debates
do mundo,
ele se viu que de tudo
sabia quase nada
Disse: sou um sapo de fora,
eu acho.
E perguntou:
- co-acha?
A vida deu muitas voltas
e as voltas deram muita vida
a enredos e processos
flagrantemente mortos quando ainda vivos
ou teimosamente vivos quando já mortos
Um cenário de guerra, guerra declarada...Contra eles! Esses inimigos da modernidade, os oitis. Mas, que alívio! A guerra está ganha. Eles perderam. Sim, eles. Você perdeu, seu oiti! Você também! E você! Perdeu, não somente a cabeleira verde. Perdeu a utilidade. Você serve para quê? Para espalhar raízes pela calçada afora? Ah, produzir sombra... Sombra para quê? Para quem? Já existem as marquises, que fazem isso por nós; e com uma vantagem: têm um desenho muito mais funcional, que não suja as calçadas com as folhas secas que você solta.
Além do mais, à noite, precisamos de luz, que você, em alguns lugares, esconde. E aí? Responde! E não é somente no escuro! Voltando para o dia, como é que vou enxergar a placa de publicidade que eu procuro? E sem essa de que você ajuda a refrescar o clima. Isso é frescura de gente sem rumo, que fica em cima, com esse papo de verde, natureza, meio ambiente... Gente que parou no tempo e nem viu que a cidade cresceu, que as câmeras da esquina precisam enxergar os carros e as motos, têm que guardar as fotos do trânsito.
Você perdeu, oiti. Não há salvação. Ninguém vai salvar você. Até sabemos que, sem as suas copas e seus galhos, os pássaros ficam desalojados dos ninhos. Pois, eles é que batam asas e façam casas noutro lugar! Um artista, que passou pela rua, até quis comover a gente, entalhando um pássaro num toco que sobrou de um Oiti. Talvez, ele tenha tido a intenção de nos fazer pensar que, ao cortar ou arrancar um oiti, a gente reduz, também, a possibilidade de vida dos passarinhos. Mas, sem sentimentalismos!
A ordem, aqui, é visibilidade, para garantir o progresso e a segurança. Ou pensa que ninguém sabe? Que é você que esconde todos os criminosos da cidade? E é o culpado, quando chove muito e falta eletricidade? Por isso, não tenho nem pena de quando a motosserra entra em cena. Um cara como você, seu oiti, pediu para ser podado. Por mim, podia até ser arrancado. Sem perdão. Porque você perdeu, oiti!
E você, seu Ipê recém-plantado? Está rindo de que? Cresça e floresça e você também vai ver!
Era um voo de skate,
um cochilo no colchão da sala,
um bilhete perguntando:
- o que houve?
Faz tanto tempo
que nada entre nós
se fala
nem nada se ouve.
Faz tanta falta!
E será que nossa falta
de tempo nos absolve?
Sobram distâncias,
e esses silêncios
são cheios de skates,
de colchões na sala,
e de conversas na madrugada.
E como falar em silêncio,
com tantos Cazuza, Elis e Belchior no vinil?
Mas como não guardar a
eloquência daquilo que ninguém disse,
mas para sempre é o que se ouviu?
Portas abertas para o que chegar,
sem importar o que vem
Sabemos tudo da vida que houve,
e de como foi bom saber viver.
O poema acaba aqui,
não por falta de espaço pra escrever,
mas porque sem abraço,
a saudade só sabe crescer.
O olhar mudo
passa rápido, cego
e sisudo
pelas definições
do mundo
Olha como quem sabe
brincar com as perguntas
e que não há resposta pra tudo
Entre o raso e o profundo
surge a vontade de olhar
para o lado;
e depois, para o outro lado.
O olhar mudo
vasculha ao redor
à procura de outro
que seja espelho
e sendo tal,
seja escudo.
Certos silêncios não precisam sair de si
Existem sem forjar olhares
que gritem em nome deles
A ilusão bateu asas
de mim
Eu não fui
porque sei que voar
não é assim
de qualquer jeito
mais do que vontade,
talento ou gene,
eu gasto passagem
e querosene.
A ilusão
se desespera
quando chega o amanhã
e descobre
que o choro não passa
e que a dor é perene.
O que me resta,
então,
é fazer de qualquer
alegria
um momento solene.
Um silêncio
que faz barulho,
de tão contundente,
é quase um rito;
que não raramente,
é cidadania.
Um silêncio,
sem cor e sem som,
quando esperavam um grito,
frenquentemente,
chamam de covardia.
Cabem essas
duas palavras
no mesmo embrulho?
Faz sentido esse
imbróglio?