sábado, 20 de julho de 2013

Amor de carnaval


Os dois se conheceram em abril.
Estava decidido:
apenas um encontro.
Nada de "eu te amo".
Amor de carnaval, apenas.
No dia do índio,
outro encontro.
Depois, aproveitaram
o feriado de primeiro de maio,
o domingo das mães.
Namoraram horas
um dia depois
do dia dos namorados.
Veio julho
e o calendário cheio de
datas nada a ver.
Mas, para constar,
ficaram juntos
no quatro de julho
e comemoraram esse
jeito independente
de se gostar.
No dia catorze,
quase uma revolução:
pensaram em parar por ali.
Mas, os corações quase
pararam.
E aquela ideia sumiu,
fez uma saída à francesa.
É sim, um amor
de carnaval.
Por enquanto,
um carnaval da Bahia:
sem data pra acabar.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Distração

Saía de casa
e seguia vendo coisas no caminho.
Parava diante dos jardins
e se distraía com a paisagem.
Um certo dia,
percebeu que a paisagem
lhe deu uma piscadinha
E não era um relâmpago.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Fila

Fila
pra pegar
a senha
pra entrar
na fila
e pagar
a conta.
Fila
pra
esperar
saúde
no posto
e fazer
de conta
que o
atendimento
vale o
nosso
imposto.
Fila
pra confessar
com
o padre
e fingir
o arrependimento
que
nos
livra
do inferno.
Fila
para
dar
a volta
no quarteirão
e esperar
abrir
a porta da
liquidação.
Fila
pra
tentar
a sorte
no cartão
de loteria
e sair
da fila
dos desesperados.
Fila
de quem
espera
a doação
para entrar na
fila
dos transplantados.
Fila
para
almoçar
a um real
no restaurante
popular.
Fila
que dá
a volta
na desilusão
para
ser mais
um
a bater
na janela
do seu coração.




A mancha de vinho no lençol

A mancha de vinho no lençol
não é apenas mancha de vinho.

É lembrança grudada
do que fomos,
e ainda somos.

A mancha do vinho no lençol
é o suco dos frutos
que plantamos, colhemos e amassamos.

É a marca do desespero
acalmado de
quando nos amansamos.
E de tão cheios de saúde,
querer ficar acamados.

A mancha de vinho no lençol
é nosso sangue estilizado,´
é a taça derramada pelas mãos trêmulas,  
a prova da sede saciada.

A mancha de vinho no lençol
é lambança feita a dois,
é do nosso encontro o resumo.

Quando nus estamos é o que somos.
E ainda que eu não esteja
ou que você não venha,
a mancha de vinho
somos nós no lençol.
Somos sumos.


Mulher de vida

Tinha luzes no cabelo,
alto falantes nos olhos,
vivia com lágrimas na boca,
soltava música pelo nariz.

Tinha a pele manchada de gritos,
o peito surdo de tanto ecoar
encontros 
e repercutir distâncias

Tinha mãos saciadas
de tanto deslizar carícias

Os pés que respiravam caminhos,
pernas que enxergavam qualquer
som por perto
e um corpo que sentia até
o cheiro de uma dança distante.

A alma vivia suja
de amor,
mas o coração
era autolimpante.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Esquadrão anti-bomba

Sempre achou que coração
fosse uma bomba relógio.
Por isso, toda vez que alguém provocava
uma pulsação desenfreada,
cuidava de desarmar
o artefato no peito.

Já estava especialista
em desfazer conexões
que fossem além de uma atração física.
Nada de química.
No máximo, sensações biológicas.

Até que um dia,
se perdeu entre suores
e espasmos corporais.
Começou a confundir
cansaço com satisfação,
desejo com adoração,
encontro marcado
com desespero cronometrado
segundo a segundo.

Vigilante atento,
não foi surpreendido pela paixão
à primeira vista.
Mas, quando deu por si,
já era ao mesmo tempo
sujeito e objeto da conquista.

Continuava a achar que coração
era uma bomba relógio.
Seria mais seguro ter um desarmado,
mais sensato um órgão desalmado.
Mas, agora era tarde:
a bomba estava ali, no colo.
Ele chegou a ouvir a explosão.
Voou pelos ares.

Desde então, passa os dias aos pedaços.
Já sabe que talvez nunca mais volte a ser inteiro.
Pelo menos, provou cientificamente
que não existe essa história de cara metade.
Descobriu, sem querer,
que a felicidade é um quebra-cabeças.
E o prazer está em procurar as peças.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Filtro ocular

No letreiro do ônibus,
está escrita em letras acesas
a palavra Esperança.

Muitos olham e lêem
apenas o nome de um bairro.

Alguns olham,
vêem a mesma palavra,
mas enxergam nela
a senha para uma outra viagem.



terça-feira, 2 de julho de 2013

Antecipação

Percebeu que o outro
precisava de um tempo
e deu espaço,
sentiu falta,
ficou doente
e se internou mentalmente.

Hibernou em pleno verão
numa caverna pós-moderna,
forrada com isolante acústico:
sem eco,
sem sons de batimentos do coração.

Fechou todos as frestas
para impedir a entrada
de qualquer sentimentalismo barato.

Ainda que isso lhe custasse caro.

Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.