terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Perdidos e achados II

O olhar

que procurava achou


O que foi achado

se deixou achar


Ele também procurava

o olhar que o achou,


mas isso, ele nunca revelou.



sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Insta

Antes, era apenas o verbo;

o verbo insta

terceira pessoa do presente

do indicativo do verbo instar

Ele insta


Agora, o sujeito,

antes instável,

se não é, 

precisa ser

instagramável


Ins-ta

também são duas sílabas

que vêm antes do antes

na palavra instantes


De  iludido ou esperançoso,

o instagramável

é imediatista apressado


E ao postar opiniões,

ainda que equivocadas,

está ele

absolutamente certo


E assim, seguimos nós,

tão perto e tão distantes



segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Imprevisão do tempo

Acariciado pela brisa

ele se envergou no vendaval

e derreteu na chuva intermitente


Quando retornou o sol,

voltou a absorver a chuva fina,

recebeu a água e

e deixou o que havia de mágoa, 

escoar com o temporal




quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Almoço

 


Verseada ao molho de inspiração abrupta,

com uma pitada de riso nervoso e descontrolado,

uma gota de lágrima envelhecida,

requentada em fogo brando de melancolia 


Na sobremesa,

dores descongeladas,

adoçadas com ressentimentos desidratados


Fica pra próxima

o sachê com 5 gramas de alegria

 

Operação mãos limpas

Quando sentou na cadeira do bar,

a palma da mão estava de um jeito,

que água não dava conta de limpar:


engordurada de

tanto manusear cotidianos,

contaminada

de grandes e

pequenos dramas,


impregnada de bactérias

e resquícios de perfume

deixados por outras mãos


Teve a sensação de que 

higienizar aquela parte do corpo

seria também lavar a alma


E finalmente, começou a operação

limpeza:

com uma caneta entre os dedos,

deslizou a palma da mão

sobre o guardanapo aberto na mesa


segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Quantos eus

Este que sou agora

chegou não sei quando

talvez fora de hora


Um daqueles que

eu fui um dia

ainda não foi embora


Vários que eu seria

já eram


E não sei quais

nem quantos 

aqui nunca estiveram


Será que estão a caminho?

esses outros de mim?

Ou são eles

que por mim esperam? 


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Homem verde


Chegou a época

de semear belezuras


de respeitar a missão

inglória dos espinhos

e pelo menos não ser

o que vai arrancar a rosa


Festejar os frutos

e as sombras das árvores,

render homenagens

às raízes




quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Outras anotações

 

Se ela erra?

Como humana que é, 

provavelmente, sim; 

mas que os erros dela 

não causem mal a ninguém, 

assim como  

nunca fizeram a mim  

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Biografilha


O que eu leio:

as histórias que ela escreve 

em cada linha

das retas e curvas que percorre, 

nas inequações que resolve


Meu desejo:

as dores que ela absorve

virem flores que a iluminem



O que eu vejo:

a força a descrever 

a menina que dança 

a mulher que se lança 

com uma sede de descobrir, 

que já vem de criança,

quem sabe até de nascença 


O que me tranquiliza:

ela trabalha, 

ama, 

anda na praia, 

viaja,  

sonha e realiza.


Se ela chora?

Um dia desses,

viu uma alegria

sair pela porta de casa

para não mais voltar

E eu a vi chorar

Quando não é

tristeza,

os olhos dela exalam estrelas 

e ela sai a desvendar novos mundos 

a mergulhar em muitos mares 

 

Ela se entrega aos ventos, 

mas não pense  

que vai sem norte 

ela é a minha filha 

e essa é a minha sorte 

 

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Não deu tempo

Não deu tempo de fazer um poema 

para a sabedoria

Logo veio a 

a anestesia,

seguida da alergia,

da letargia,

e o silêncio

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Buscou conhecimento

encontrou angústia


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Períodos

O dia amanhece frágil,
e antes que comece outro,
o existir se impõe

- Pai nosso, o que fazer
com esse destino que é meu?

- Viva, deixe viver
e aproveite, que nada é seu 

Passou da hora de desprezar os presságios
Vou chegar somente até onde me leva o relógio 

Então, vamos começar
E se o começo não tiver fim,
Qual é o meio de saber
onde o fim começa?

Abraçar a vida,
antes que ela
de nós se despeça




quarta-feira, 30 de julho de 2025

Bichos essenciais

Por educação,

levar a sério o ditado:

quando um burro fala,

o outro murcha a orelha


Como macaco velho

não mete a mão na cumbuca,

estar sempre com a pulga atrás da orelha

e evitar passar o carro na frente dos bois


Quando a porca torce

o rabo

precisa escolher entre

virar uma onça

ou se fingir de égua


gato escaldado,

que tem medo de água quente,

detecta, de longe,

o risco que vem ainda

lá na frente


Disciplinado,

pra não ver a vaca ir pro brejo,

tem que matar um leão por dia

engolir sapos,

pra não perder emprego

e preservar a paz


Justo e leal,

dá um boi para não entrar

na briga

e uma boiada pra não sair,

se a causa valer a pena


Pra afrouxar o nó da garganta,

cospe marimbondos


E se não der resultado,

se ainda estiver sufocado,

solta os cachorros

e se sente libertado


Mas o que mais o anima

é sentir borboletas no estômago




quarta-feira, 9 de julho de 2025

Um aceno

Votei para o verso vir

e ficar


Ele veio

mas não ficou


Era um verso em 

trânsito,

cumprindo o trâmite


e eu, em transe,

a esperar

uma semente 

que eu pudesse plantar


Não é que tenha

sido um veto,

mas é que o verso

é um vento,

sem interesse

de fazer brotar

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Dias sim

Depois, que eu possa dizer:

-  era um sonho que eu tinha


Durante, que eu perceba:

- que sorte a minha!


E toda vez que eu me perder:

- ganhei meu dia!


terça-feira, 10 de junho de 2025

Hora certa

A hora certa

ninguém sabe qual é

O incerto é pontual




Desopostos

Antes pelo contrário

Depois pelo precoce

no meio, o retardatário


Foi morto o choro do 

enterro

no dia do inventário


Há erro que não morre

e sempre faz aniversário






Questão de interpretação

Não falei direta

nem indiretamente

Foi você

que me entendeu mal

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O rio de Sebastiao


 

Na terra seca, 

à beira do rio, 

cresceu árvore, 

surgiu bicho, 

brotou água 

 

Foi mágica não; 

projeto e trabalho 

de Lélia e Sebastião 


Doce é o nome do Rio 

Salgado é o sobrenome de Tião 

o acaso preparou esse tempero 

 

Quanta vida havia  

escondida nas entranhas da terra

debaixo daquele deserto estranho

e hoje, tantas florestas 

renascem no viveiro  

 

Doce é o rio 

pra Sebastião, 

sagrado 

 

e que gosto bom  

regar as sementes   

que já refrescam o futuro 

desde o canteiro 

quem sabe um dia,  

um rio salvo e são, 

se levarmos a sério

o sonho de Sebastião 

 

(Para Sebastião Salgado – 02/06/2025) 

Quem sou eu

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Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.