quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Entre rios e montanhas

Olhou para o rio

fez cara de paisagem

Viu a estrada

pensou na viagem

Avistou a montanha

e o deserto em dupla miragem

Sorriu para a estrada

voltou para o rio

e se assentou à margem


Carta de amor

Sem ti,

senti.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Minimalismo anfíbio

 Nem Rio Doce,

nem Tejo, 

o sapo quer apenas um brejo

Parceiros na lagoa

No meio dos debates 

do mundo,

ele  viu que de tudo

sabia quase nada

e disse:

- sou um sapo de fora,

eu acho.

E perguntou:

- co-acha?

Desnarciso

Faca, queijo, 
foco e beijo
sapo e brejo,
eu me planejo

corto, como,
clico e beijo,
pulo e nado
e eu nem me vejo


Tarde de despejo

As asas em volta

da árvore

Árvores

em volta da casa

E a casa das asas

era a árvore

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Trem fantasma

A vida deu muitas voltas

e as voltas deram muita vida

a enredos e processos

flagrantemente mortos

embora ainda vivos

ou teimosamente vivos

quando já mortos



quarta-feira, 5 de julho de 2023

Crônica de uma guerra

             Um cenário de guerra, guerra declarada...Contra eles! Esses inimigos da modernidade, os oitis. Mas, que alívio! A guerra está ganha. Eles perderam. Sim, eles. Você perdeu, seu oiti! Você também! E você! Perdeu, não somente a cabeleira verde. Perdeu a utilidade. Você serve para quê? Para espalhar raízes pela calçada afora? Ah, produzir sombra... Sombra para quê? Para quem? Já existem as marquises, que fazem isso por nós; e com uma vantagem: têm um desenho muito mais funcional, que não suja as calçadas com as folhas secas que você solta.

           Além do mais, à noite, precisamos de luz, que você, em alguns lugares, esconde. E aí? Responde! E não é somente no escuro! Voltando para o dia, como é que vou enxergar a placa de publicidade que eu procuro? E sem essa de que você ajuda a refrescar o clima. Isso é frescura de gente sem rumo, que fica em cima, com esse papo de verde, natureza, meio ambiente... Gente que parou no tempo e nem viu que a cidade cresceu, que as câmeras da esquina precisam enxergar os carros e as motos, têm que guardar as fotos do trânsito.

         Você perdeu, oiti. Não há salvação. Ninguém vai salvar você. Até sabemos que, sem as suas copas e seus galhos, os pássaros ficam desalojados dos ninhos. Pois, eles é que batam asas e façam casas noutro lugar! Um artista, que passou pela rua,  até quis comover a gente, entalhando um pássaro num toco que sobrou de um Oiti. Talvez, ele tenha tido a intenção de nos fazer pensar que, ao cortar ou arrancar um oiti, a gente reduz, também, a possibilidade de vida dos passarinhos. Mas, sem sentimentalismos!

       A ordem, aqui, é visibilidade, para garantir o progresso e a segurança. Ou pensa que ninguém sabe? Que é você que esconde todos os criminosos da cidade? E é o culpado, quando chove muito e falta eletricidade? Por isso, não tenho nem pena de quando a motosserra entra em cena. Um cara como você, seu oiti, pediu para ser podado. Por mim, podia até ser arrancado. Sem perdão. Porque você perdeu, oiti!

       E você, seu Ipê recém-plantado? Está rindo de que? Cresça e floresça e você também vai ver!


sexta-feira, 12 de maio de 2023

O que há, o que houve e o que se ouve hoje e sempre

Era um voo de skate,

um cochilo no colchão da sala,

um bilhete perguntando:

-  o que houve?

Faz tanto tempo 

que nada entre nós 

se fala

nem nada se ouve.

Faz tanta falta!

E será que nossa falta 

de tempo nos absolve?

Sobram distâncias,

e esses silêncios 

são cheios de skates,

de colchões na sala,

e de conversas na madrugada.

E como falar em silêncio,

com tantos Cazuza, Elis e Belchior no vinil?

Mas como não guardar a

eloquência daquilo que ninguém disse,

mas para sempre é o que se ouviu?

Portas abertas para o que chegar,

sem importar o que vem

Sabemos tudo da vida que houve,

e de como foi bom saber viver.

O poema acaba aqui,

não por falta de espaço pra escrever,

mas porque sem abraço,

a saudade só sabe crescer.





segunda-feira, 3 de abril de 2023

Sem respostas

O olhar mudo
passa rápido, cego
e sisudo
pelas definições
do mundo
Olha como quem
brinca com perguntas
e sabe não haver resposta pra tudo
Entre o raso e o profundo,
a vontade de olhar
para o lado;
Calado, o olhar
vasculha ao redor
à procura de outro
igualmente mudo.
E que em sendo
espelho,

seja também escudo

Silêncio apenas

Certos silêncios não precisam sair de si

Existem sem forjar olhares

que gritem em nome deles






terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Caindo em si

A ilusão bateu asas

de mim

Eu não fui

porque sei que voar

não é assim

de qualquer jeito


mais do que vontade,

talento ou gene,

há o gasto com passagem

e querosene.


A ilusão

se desespera

quando chega o amanhã

e descobre 

que o choro não passa

e que a dor é perene.


E é assim

que se faz de qualquer 

pequena alegria

um grande momento solene.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Embrulhos

O barulho

contundente de um silêncio

 não raramente,

um ato de cidadania


Um silêncio,

sem cor,

um grito reprimido

pode ser covardia.


Cidadania e covardia

Cabem essas

duas palavras

no mesmo embrulho?


Faz sentido esse

imbróglio?

 


Quem sou eu

Minha foto
Na rádio, sou o narrador de futebol, Carlos Augusto. Na TV, sou o repórter e apresentador Carlos Albuquerque. Aqui, neste blog, pretendo resolver essa "crise de identidade" e juntar os dois "Carlos"! Mas, no fundo, sou aprendiz, eternamente aprendiz! Sou filho da terra, de todas as terras que formam o planeta, de todas as substâncias que formam o universo. Sou irmão de todos os seres. Sou o pai da Luíza.