Segue o cego

Sigo eu

em linha reta 

sem pressa 

e sozinho 

saio da rota,

um pouquinho,

paro, escuto

e sigo em frente,

cego pelo caminho

Questão de pele

Ao lamber a noite escura,

sentiu da existência um gosto raro

e da luz,  intensidade e textura 

Companhias

Passou por mim

um bendito vento

e me assoviou segredos

assoprou-me a pele,

e varreu pra longe 

certos medos

que eu eu tinha

de ouvir passos

sem saber quem vinha

Vozes e buzinas

me dão pistas de onde estou

Até o piso e o buraco

das calçadas,

as texturas e cheiros

me guiam por onde vou

Pela manhã,

ganhei um parceiro passarinho,

cada gorjeio dele

me adivinhava o caminho

Bercemitério

Bercemitério

As lembranças

nascem

e morrem

do nada.

Mas nisso,

não há

mistério.

Lembranças nascem

e morrem

pra cumprir

o duplo papel

da memória:

ser berçário

e cemitério.

Impregnações

No colar dos sentidos,

o calar dos gritos

e o calor dos silêncios