Aquela cabeça ali
já esteve cheia de sonhos
Hoje, nela,
mal cabem
algumas senhas
Este é um blog teste. Com a pretensão de abrigar textos, poemas, crônicas...
Tempo normal
Sem chuva
Depende do lugar.
Tempo normal
é chuva toda hora.
Tempo normal:
noventa minutos.
Mas gol nos acréscimos
também é normal.
Quem está no clima
da vida
quer mais é prorrogação
Votou em trânsito?
Votou em transe.
Parou no tráfego;
e o semáforo dizia:
mantenha o seu processo
em trâmite.
Proteja-se no trânsito,
liberte-se do transe.
Transe.
Ponto de ônibus
Esperar, esperar
Era o erro
Era o acerto
A ilusão
de que quem estava longe
iria vir pra perto
Esperar eternamente
o que nunca chegava
Mas era
o que sabia fazer
enquanto respirava
Uma semente
que se jogou
e se abriu no jardim
desabrochou,
e logo floresceu em mim.
De repente, muda
o tempo verbal,
a semente agora é muda
é já é flor
e de novo mudou
sumiu de mim
e deixou o jardim
De galho em galho,
viagens rápidas
de ida e volta
O passarinho traz o
sonho na asa;
e no bico,
um fiapo para o ninho,
um tijolo da nova casa.
A manhã do domingo se vestiu de rima fácil
e se apresentou para o menino poeta:
uma brisa atingiu seu rosto,
feito bala perdida;
mas tão leve, simples e direta,
que ele decidiu sentir
o gosto da vida,
de bicicleta.
Todo ano
tem setembro
que tem um dia 27.
Todo ano
neste dia
lembro poemas
antigos
que traduzem novos
rumos
Busco rimas
difíceis
para explicar
o riso fácil
que há 23
anos,
vem
desde o dia
que você veio
Junto fotos
de abraços
guardo registro
de poses
que remontam
seu percurso
e suas fases.
Mil imagens
compõem a riqueza
da sua existência
e vêm povoar-me a memória,
meus espelhos,
vêm iluminar meu trabalho
Uma árvore
no meio da mata
vive plena
onde a vida
se retroalimenta,
vive e viabiliza
o viver
Árvore no morro
encharca a terra,
que prenha,
vê a água nascer
e para o rio
escorrer
Árvore
na beira do rio,
lado a lado
com o rio,
não deixa o rio
morrer
E salve a árvore na rua,
deixe o verde florescer,
deixe os galhos
pro passarinho sobreviver,
deixe a árvore na sua,
com a sombra e o vento
que sempre vão nos socorrer
Morto de cansado,
mas pressionado pela noite viva,
descobriu na madrugada
que cada um paga o preço
pelos valores que cultiva
Memória do sorriso
Na memória do meu sorriso,
moram casas,
goteiras, sombras
e frestas,
choros presos
e bichos soltos
Nas ruas por eu onde
eu ria,
cresciam plantas,
meninos brincavam
passavam sonhos,
que eu,
sem estar pronto,
seguia
Na casa do meu sorriso,
almoço e janta,
plantas no telhado
estrelas no piso
e alguma lembrança
do meu dente siso
Tentou cortar o mal
pela raiz;
não deu
foi plantar semente
do bem que sempre quis;
choveu
Leitura labial
- Pare de tentar ler
o meu sorriso
É nos olhos
que a gente vê tudo
- Mas seu olhar
não falou mais nada,
ficou mudo.
- É assim mesmo.
Já olhei
em alguns olhos
e vi o mundo;
noutras vezes,
olhei no fundo
de outros olhos;
e sim, meu olhar
estava surdo.